O LA’GRIMA é um laboratório antropológico dedicado à experimentação conceitual e metodológica, cujo objetivo central é fomentar estudos e reflexões acerca das grafias e das imagens em pesquisa no campo antropológico, abarcando proposições teóricas e etnográficas. O Laboratório abriga pesquisadores interessados nas questões relativas ao desenvolvimento de habilidades de pesquisa e suas expressões gráficas – este último termo compreendido em sentido lato – e reúne, a partir deles, pesquisas em desenvolvimento, em contextos distintos, com materiais diversos (escritos, orais, imagéticos, iconográficos), combinados ou não, e sobre distintos objetos, condição para cumprir a formação, reflexão e experimentação "metodológica" tomada como meio e como modo de conhecimento.
O LA’GRIMA tem ainda como objetivo investigar o estatuto de narrativas etnográficas, seja aquelas resultantes de pesquisa de campo, em arquivo, ou na internet – tratando, inclusive, destes distintos territórios de pesquisa –, de como obter e analisar e registrar as narrativas de vida (resultantes de pesquisa de campo, em documentos como diários, memórias, escritos biográficos, autobiográficos).
Fundamentado pelo estatuto das narrativas, pretende-se contribuir para a crítica às oposições, muitas vezes dicotômicas, entre sociedade/indivíduo/agente, ou às soluções conceituais alternativas como, por exemplo, trajetória e campo (Bourdieu) ou ator-rede (Latour), ou, pessoa relacional e indivíduo (Strathern), ou ainda, meshwork (Ingold), este último nos parecendo bastante promissor. Com este objetivo mais específico, torna-se importante explorar as potencialidades das narrativas como o nexo entre etnografia e perspectiva biográfica, problematizando a descrição e a narratividade (não a narratologia), seus vínculos com os conceitos, e, entre ciência, literatura e arte, na pesquisa “escrita” antropológica.
O Laboratório se propõe a abrir questões tais: como postular a partir das narrativas (etnográficas e biográficas) uma experiência visual, sensorial e gráfica? Como descobrir, diante do estatuto das imagens, um processo de trabalho relacionado às afinidades e contrastes na operação de montagem e desmontagem entre o mundo das palavras e aquele advindo da experiência das imagens e grafias possíveis? Como pensar, então, em organizar o mundo das imagens e das grafias como conhecimento? Não se trata apenas de uma formulação como “narrativa e imagem”, mas, principalmente, de indagar sobre a narratividade da imagem (Goodman, N. 1980).
Embora LA’GRIMA remeta à sigla do Laboratório, a origem do nome nasce de uma aproximação livre (não tendo a pretensão de esgotar as suas próprias definições) com a palavra “grima”, termo da língua espanhola que sugere inquietação, incômodo. Tomando emprestado e de forma mais expandida, este sentido nos ajuda a reforçar a constituição de um laboratório que não está concentrado apenas em um objeto de pesquisa delimitado ou restrito a uma área etnográfica. Diferentemente, e noutra direção, desde a sua concepção de origem, o laboratório guarda uma certa inquietação, um incômodo que se expressa na intenção de reunir experiências com interfaces entre literatura, arte e ciência como inspiração e matéria-prima para experimentos etnográficos e contribuições para invenções teóricas na antropologia. É isto que confere ao LA’GRIMA uma singularidade e instaura ao mesmo tempo o seu desafio: um vínculo preciso em sua intenção e amplo em sua constituição.